Rafael Nacif nasceu em Belo Horizonte. Ao longo da sua carreira trabalhou com senadores, fundou empresas, deu colóquios e participa com frequência em provas desportivas radicais para promover causas sociais e humanitárias. Pelo meio, associou-se em Portugal com o sul-africano Tim Vieira e, juntos, criaram a Brave Generation e a Green Meridian, e fundou a Associação Anna e Sophia. Foi ainda convidado pela organização do “Re-Nascer Challenge”— projeto para dinamizar as zonas mais afetadas pelos incêndios ocorridos em junho de 2017, em Pedrogão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Papilhosa da Serra — a partilhar as experiências e lições que retirou da sua recente viagem de bicicleta pelo Vietname, Cambodja e Tailândia.
A NiT falou com o empresário-agora-ativista para perceber a sua filosofia de vida, paixão pelas viagens e já agora para perceber porque escolheu Portugal, de entre todo o mundo, para morar.
“Vivi no Brasil, Havai, Canadá e Suiça mas um dia um amigo falou-me de Cascais. Convidou-me para passar uns dias na sua casa e eu fiquei absolutamente apaixonado, não só por Cascais, mas pelo País.”
Durante essa estadia, não parou: “Fui à praia, visitei Sintra, percebi a proximidade cultural que existia e senti, imediatamente, que era aqui que queria viver com a minha família, os nossos quatro cães e um gato”, explica Nacif. A gastronomia, o clima e a segurança foram também importantes factores.
Mas não é so por isso que o investidor acredita que Portugal está tão na moda e o turismo tão em alta: “Portugal sabe, cada vez melhor, promover-se. Nos últimos anos deu um salto qualitativo muito grande em termos de comunicação da sua história, das suas paisagens, do seu clima, da sua gastronomia, da sua cultura. Por outro lado, o facto de ser um país tranquilo, onde as pessoas se sentem seguras, ao contrário de muitos outros países, importa. Portugal é um país pacífico, e é isso que as pessoas buscam cada vez mais”, acrescenta à NiT.
Nacif explica que nasceu no Brasil, numa família grande, com muitos tios e primos, unida e numerosa. “Não éramos ricos mas éramos todos empreendedores. Com 16 anos saí do Brasil para trabalhar e estudar. Obtive a minha formação académica e profissional nos EUA, Canadá e Europa”. E fez pela vida. “Desde lavar pratos num restaurante marroquino até ser assessor legislativo no Senado do Havai, fiz de tudo um pouco”.
Depois fundou uma empresa de imobiliário e em 2013, já a morar em Portugal, enviou uma mensagem através das redes sociais ao conhecido empresário Tim Vieira, por o ter visto no “Shark Tank Portugal” e, a partir daí tornaram-se amigos e sócios, em várias empresas como a Green Meridian – Cultura e Plantação de Frutos Vermelhos, na Zambujeira do Mar.
Continua empresário, mas diz que o coaching é o seu propósito de vida. “Numa das minhas viagens de bicicleta pelo mundo, vivi uma experiência única e transformadora. Decidi escrever duas cartas às minhas filhas, caso nunca mais as pudesse ver e ao escrever essas cartas percebi quais os verdadeiros motivos pelos quais gostaria que me recordassem”.
Fala sobre viagens como se fossem algo essencial na nossa vida. “No meu caso pessoal, as viagens funcionam como um tempo que tenho só para mim, para estar comigo, para conviver comigo. Considero esses momentos fundamentais porque devemos ter em mente que nos devemos considerar, sempre, a pessoa mais importante nas nossas vidas”.
Já este ano, fez uma viagem de bicicleta pela Ásia, num total de 700 quilómetros percorridos, a começar em Saigon, no Vietname e terminar em Banguecoque, na Tailândia.
“O nosso grupo era composto por 16 pessoas, de diversas nacionalidades. Ingleses, americanos, brasileiros e dinamarqueses. Saímos dia 14 de janeiro e terminamos dia 27”, conta.
Foi a viagem de uma vida, daquelas que mudam as pessoas e as fazem encarar tudo de maneira diferente:
“Quando saímos de Saigon — uma cidade louca, muitos carros, milhões de scooters, muita gente — para mim representava muito mais do que uma viagem. Representava a concretização de um sonho. A concretização de algo que eu tinha planeado, que fazia sentido na minha vida”.
Mesmo com o calor sempre a rondar os 30 graus e com muita humidade, o grupo fazia cerca de 70 quilómetros de bicicleta por dia. “O que mais me marcou foi ter passado por locais que quase nunca são visitados por turistas. Locais onde víamos os residentes, as suas casas, a sua maneira de viver, as suas comidas e a simplicidade e o sorriso que sempre levavam no rosto”.
A barreira da língua era grande, mas nunca foi impedimento. “Naquelas aldeias, quase não havia quem falasse inglês. Então comunicávamos através dos gestos e do olhar.”
No Cambodja, outra experiência: “Parámos numa aldeia que tinha a tradição de comer animais de qualquer espécie, baratas, cobras, tarântulas, ratos, grilos. Tudo frito e aos montes. O nosso guia local pegou numa tarântula e pôs no seu braço. Ao princípio ficámos todos assustados. Depois ele perguntou quem gostaria de ter aquela experiência. Eu disse logo que sim. Deixar aquela tarântula tão grande caminhar no meu braço, certamente seria uma experiência marcante”. Foi, e por respeito ao povo, também comeu um grilo — “crocante e sem sabor”.
“Até 1989 o Camboja esteve em guerra, que aniquilou 40 por cento de toda a população do país. Todas as famílias têm alguém que morreu durante a guerra. Durante 10 anos não havia trabalho, não havia vida, só havia sobrevivência. E sobrevivência passa por comer de tudo. Tudo mesmo”, acrescenta.
Já em Portugal, Rafael foi recentemente convidado para se associar ao “Re-Nascer Challenge”, um concurso que pretende premiar ideias que apostem no uso inovador da floresta, no setor do turismo, na agricultura, nas novas tecnologias, que promovam os produtos regionais ou valorizem o impacto social e a sustentabilidade.
O objetivo é revitalizar e dinamizar os concelhos de Pedrogão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pampilhosa da Serra, afetados pelos incêndios do ano passado, e faz parte do projeto “Re-Nascer”. Tem sido convidado para motivar os candidatos através da partilha de experiências de vida, como as que ficaram das tais viagens de bicicleta a ao Cambodja e Vietname.
“Opto por me focar no lado positivo da dura realidade de muitos destes países e nas lições que aprendo com as pessoas com que me vou cruzando durante estas viagens de bicicleta”, explica.
As próximas palestras são a 15, 22 e 29 de março, sempre pelas 19 horas no Edifício BraveGeneration em São Marcos, Cacém e a entrada é gratuita.